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Implantação lenta e sem metas claras compromete controle da pecuária no Pará

A tentativa de implementar um sistema de rastreamento no setor pecuário do Pará enfrenta grandes dificuldades em seu primeiro ano de operação. Apesar de ser promovido como uma solução moderna e sustentável para lidar com os desafios ambientais da Amazônia, o avanço da iniciativa ocorre em ritmo muito inferior ao esperado. Isso se torna preocupante em um estado que concentra um dos maiores rebanhos do Brasil e lidera os índices de desmatamento. Sem metas ambientais integradas ao sistema e com adesão ainda limitada entre os produtores, o futuro dessa política permanece incerto.

O sistema foi anunciado com promessas ambiciosas, incluindo o uso de brincos eletrônicos e visuais em cada animal, o que permitiria um controle individualizado da movimentação do gado. No entanto, passados doze meses desde seu lançamento, apenas 0,2% dos 25 milhões de bois e búfalos do estado foram identificados. Esse dado ilustra o quanto a execução prática está distante das metas anunciadas. Além disso, o sistema ainda se limita a informações sanitárias, sem cruzamento com dados ambientais das propriedades, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que compromete sua utilidade no combate ao desmatamento ilegal.

A ausência de integração entre as informações ambientais e o novo sistema de rastreamento reduz significativamente sua eficácia. Ao não vincular as movimentações dos animais às condições legais das terras onde são criados, o programa falha em oferecer garantias sólidas sobre a origem do gado. Essa desconexão abre espaço para irregularidades e compromete a credibilidade do Pará frente aos mercados internacionais, que vêm aumentando a pressão por cadeias produtivas mais transparentes e livres de desmatamento. A falta de clareza nos objetivos ambientais do programa enfraquece ainda mais seu impacto.

O cenário é agravado pela baixa adesão dos produtores rurais, que enfrentam obstáculos como falta de infraestrutura, altos custos operacionais e dificuldade para obter os brincos exigidos. Pequenos criadores, em especial, relatam abandono por parte do poder público e apoio insuficiente para aderir ao novo modelo. Sem incentivos práticos e com um sistema ainda em fase inicial, muitos veem mais riscos do que benefícios. A resistência aumenta com a percepção de que a medida representa mais uma obrigação burocrática do que uma ferramenta de modernização produtiva.

Do ponto de vista ambiental, a morosidade na implementação do rastreamento compromete outras frentes importantes, como a validação dos registros das propriedades rurais. Com apenas 8% dos CARs analisados até o momento, a lentidão no processo reforça a fragilidade da fiscalização e permite que áreas embargadas continuem operando. Isso perpetua práticas ilegais e mantém viva a cadeia do desmatamento, que segue ligada à produção pecuária no estado. A falta de transparência nos dados e a ausência de controle efetivo colocam em dúvida a real intenção de promover uma pecuária sustentável.

Enquanto isso, o governo estadual mantém a postura de não responsabilizar os produtores e insiste que o foco do sistema é garantir a saúde do rebanho. No entanto, especialistas defendem que, sem mecanismos ambientais, o rastreamento perde seu papel transformador. A promessa de identificar todos os animais até 2026 parece distante diante dos números atuais e da ausência de estratégias eficazes para acelerar o processo. A situação exige uma revisão urgente das prioridades, com incorporação clara dos objetivos ambientais e mais apoio à base produtiva.

Os próximos anos serão decisivos para determinar se o Pará conseguirá transformar sua pecuária em exemplo de sustentabilidade ou se o sistema de rastreamento será apenas mais uma política inacabada. O desafio é enorme, tanto pelo volume do rebanho quanto pela extensão territorial e fragilidade das instituições locais. A pressão internacional deve continuar crescendo, especialmente com novas regulações ambientais em vigor. Sem ações mais concretas e metas bem definidas, o estado corre o risco de comprometer sua competitividade no mercado global.

A implantação do sistema ainda pode ser resgatada, mas será necessário esforço coordenado entre governo, setor privado e organizações civis. Investimentos em tecnologia, capacitação e estrutura são urgentes. O Pará tem a chance de liderar um modelo inovador de produção pecuária compatível com a conservação ambiental, mas, para isso, precisa superar a lentidão atual e tornar o rastreamento funcional e transparente. O tempo está passando, e o mundo está atento.

Autor: Anthony Harris

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